Olá caros amigos. Não tenho o hábito de postar coisas pessoais aqui no Blog, mas no último sábado passei por uma experiência tão marcante que fica difícil não compartilhar com vocês. Há duas semanas estou trabalhando aqui na Alemanha, precisamente na linda cidade de Esslingen. No último final de semana aproveitei a folga para visitar um dos únicos campos de concentração conservados aqui na Alemanha, Dachau.
Dachau foi o segundo maior campo de concentração da Alemanha durante a segunda guerra mundial. No início o campo foi construído para aprisionar os presos políticos que eram contra o regime nazista, mas com o tempo se tornou um campo de extermínio onde mais de 200 mil pessoas morreram naquele lugar. Dachau serviu de campo modelo para os outros campos de concentração, devido a sua organização e eficiência no extermínio dos presos.
Quando fiquei sabendo que viria para a Alemanha e que este campo ficava relativamente próximo de onde eu iria ficar, logo me interessei em conhecê-lo pois sempre gostei de história voltado à segunda guerra mundial. Mesmo sabendo que seria uma experiência extremamente triste, resolvi encarar e saí do hotel no sábado passado logo cedo para conhecer o local.
Duas horas de estrada, muita chuva durante o caminho e finalmente cheguei à Dachau. O campo de concentração leva o nome da cidade. É uma cidade pequena e tranquila. Ao entrar pela cidade nem parece que ali está um dos piores lugares que existiram na face da terra.
O campo de concentração fica um pouco afastado, o que na época levou muitos alemães a não terem conhecimento do campo de concentração. Nesta região chove muito e durante o inverno o clima é impiedoso. No dia em que eu estive no campo, estava um dia chuvoso e com uma temperatura baixa, mesmo estando no meio do verão europeu.
No local você encontra muitos turistas e jovens. Aqui na Alemanha é comum as escolas fazerem excursões para este campo de concentração, afim de mostrar para os mais novos os horrores do passado e de certo modo, evitar que este tipo de coisa volte a acontecer no futuro. Este assunto é meio que um tabú aqui na Alemanha, muitos não gostam de comentar e se sentem ofendidos quando ouvem a palavra "holocausto", porém eles tem plena consciência do passado e mesmo sendo uma mancha na história do país, conservam a história para que a futura geração não cometa o mesmo erro do passado.
Logo na entrada do campo você se depara com um portão com a seguinte frase: "O Trabalho trará a liberdade". Este era o primeiro sinal do sinismo alemão, fazendo com que os presos acreditassem numa mentira, afinal ninguém sairia de Dachau vivo. Após colocar os meus pés dentro do campo, tive a idéia da imensidão daquele lugar. É simplesmente enorme! Do lado direito do portão de entrada há o museu, que na verdade era o antigo prédio de administração do campo, onde ali os presos eram recepcionados tendo seus objetos pessoais confiscados e passando a "não existir mais".
O museu é fantástico, conserva a arquitetura original. Pouca coisa foi restaurada no prédio. Lá dentro você é introduzido na história do campo, onde você encontra relatos daquela época, fotos inéditas, objetos pessoais dos presos, artigos utilizados nas torturas, móveis fabricados pelos presos, cartazes do nazismo, cartas pessoais dos presos, etc. É uma infinidade de coisas interessantes que seria impossível ler/ver tudo em apenas 1 dia.
De lá fui andar pelo campo e conheci as instalações onde os presos dormiam. Era um galpão de madeira sem isolamento do frio! Muitos morriam durante a noite, afinal o inverno na Alemanha é geralmente terrível. As camas, se é que podemos chamar aquilo de cama, eram de madeira, pequenas e sem conforto algum. Fico imaginando como alguma pessoa conseguia dormir naquilo. No auge da guerra, o campo de concentração chegou a abrigar mais presos do que a capacidade, portanto muitos tinham que dormir encima do outro.
Toda manhã os presos tinham que sair para fora das instalações para que os soldados fizessem a contagem. Se a contagem não batesse, os soldados matavam muitos presos como uma forma de punição, por isso que, para não morrerem, muitos presos levavam os mortos para a fila para que a contagem não desse errado.
Ao redor do campo de concentração existiam diversas torres de vigilância. Quem chegasse perto dos muros era alvejado pelos soldados. Muitos presos, por não aguentarem viver naquela situação, cometiam suicídio se aproximando dos muros para morrerem a tiros.
O sofrimento deles era enorme, pois além de não terem comida e água, muitos passavam por sessões de tortura frequentemente. E as sessões de tortura eram das mais cruéis possíveis.
Vou citar duas delas:
A primeira era por chibatadas com esta espécie de vara feita com couro de boi. Os presos eram colocados deitados numa pedra e castigados com chibatadas até os soldados cansarem. E pior, eles tinham que contar as chibatadas, pois se não aguentassem, levariam o dobro do castigo. Muitos não saiam dali vivos.
Mas acredito que a pior tortura era onde eles colocavam os presos pendurados por uma corrente e lá deixavam o preso por dias. Muitos morriam pendurados ali mesmo!
Até então eu já estava abalado, mas a pior parte estava por vir. No final do campo de concentração existia uma ponte acima de um pequeno rio. Do outro lado dessa ponte ocorriam as piores atrocidades daquela época. Quem passava para o outro lado da ponte jamais voltava.
Ali existiam locais onde os presos eram fuzilados, enforcados e mortos pela temida câmara de gás. Era o local onde eles exterminavam os presos em massa realmente.
Ao passarem da ponte, os presos eram informados que eles iriam tomar banho para que algum tipo de doença não se proliferasse pelo local. Ao entrarem no prédio eles eram obrigados a tirar suas roupas. Passado para a outra sala, eles eram trancados e ao contrário de banho, eles eram mortos pelo gás da câmara. Dali, eles eram jogados em fornos e cremados ali mesmo. Há relatos de que muitos presos foram queimados vivos, pois o gás não era suficiente para matar todos eles.
Entrada para a câmara de gás
Local onde os presos tiravam as roupas
Câmara de gás
Crematórios
Em 1945 surgiu uma epidemia no campo, onde somente neste ano, foram mortos mais de 75 mil pessoas em Dachau, pois para evitar que a doença se espalhasse, os membros da OSS mandavam executar a todos, sem exceção.
Dachau se tornou um dos lugares mais temidos da Alemanha. Com o tempo, o local foi ficando conhecido e no final da guerra, Dachau se tornou sinônimo de terror na Europa.
Saí do local abalado, principalmente depois de saber que muitas crianças morreram naquele lugar também. Minhas pernas tremiam e meu coração batia num ritmo aceleado. Presenciar tamanha atrocidade fez com que minha vida fosse abalada para sempre. Jamais irei esquecer daquele lugar. Ao mesmo tempo em que foi desagradável conhecer de perto este "inferno", foi bom como experiência, pois presenciar algo assim é uma experiência única na vida.
Hoje posso dizer que pisei num pedaço do inferno aqui na terra e acredite meus amigos, foi uma experiência amarga e dolorida que marcará a minha vida para sempre.
"Então vos hão de entregar para serdes atormentados, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações por causa do meu nome." - Mateus 24:9